quarta-feira, 10 de outubro de 2012

PEQUENO OBJETO DE PLÁSTICO AMARELO


Algumas pessoas observam quando a garota, aparentando vinte anos de idade, passa segurando o seu Mc Lanche Feliz. Ela senta sozinha em uma mesa em meio aquela multidão da praça de alimentação e não nota um par de olhinhos, em especial, que não param de lhe observar.

Abre a caixinha colorida, dá uma mordida no seu hambúrguer, come algumas batatas fritas e toma um gole do refrigerante. Em pouco tempo termina seu lanche. Limpa os dedos no guardanapo e novamente abre a caixinha. No fundo dela, um brinde.

Assim que o brinquedo amarelo surge em suas mãos, ela ouve um grito. “Ela tem um Pikachu, mãe!”. A garota se vira para olhar o pequeno menino que, assim como ela, tinha em suas mãos um Pokémon. Ele havia observado a garota durante toda sua refeição, apenas para descobrir qual personagem do desenho japonês ela tinha escolhido para ser seu brinde. E ficara extremamente animado por ver que a escolha dela havia sido o seu personagem preferido.

No auge dos seus quatro anos de idade e comemorando antecipadamente o dia criado em sua homenagem, a criança se dirige à garota para observar de perto o brinquedo de plástico amarelo. Os dois conversam entusiasmados sobre o personagem do desenho animado e não se cansam de apertar o botão que faz com que as bochechas vermelhas do bonequinho amarelo se acendam. Naquele momento, não existiam diferenças de idade.

Há muito tempo atrás, na década de 20, um deputado federal chamado Galdino do Valle Filho, resolveu criar uma data com intuito de homenagear as crianças. Desde então, o dia 12 de outubro passou a ser o Dia das Crianças, no Brasil.

Mas a data só ficou popular a partir da década de 60, quando uma fábrica de brinquedos, junto a uma empresa de cosméticos para crianças, resolveu fazer uma promoção para aumentar as vendas, aproveitando o Dia das Crianças.

Trata-se, de fato, de uma data comercial, em que a comemoração é feita através da compra de brinquedos para presentear as crianças. Mas a data criada por Galdino, não incentiva apenas o consumo e também não significa somente o lucro da indústria de brinquedos. Essa data tem o poder de unir adultos e crianças. Garotas de vinte anos de idade e garotinhos desconhecidos de quatro anos, que no meio de uma praça de alimentação de um shopping qualquer, conversam alegres e se divertem com um pequeno objeto de plástico.

As pessoas, à medida que vão crescendo e amadurecendo, não se permitem mais determinadas atitudes. Aos poucos vão perdendo a sua inocência, sua curiosidade e a capacidade de se divertir com muito pouco, como um brinquedo de plástico amarelo. Aos poucos elas vão se perdendo das crianças que foram um dia.

A data serve para resgatar um pouco da criança que existe dentro de cada um, para que as pessoas se permitam um pouco de diversão e inocência. Permitam-se olhar novamente para a vida com aquele par de olhinhos curiosos, que se encantam com um brinquedo e com todas as possibilidades que vem junto com ele, mesmo que, em parte, essas possibilidades não saiam do plano da sua imaginação.

A garota olha para o relógio e percebe que está atrasada para um compromisso. A sua vida de adulta lhe chama, assim como todas as responsabilidades que vêm junto. Ela se despede do novo amiguinho e sai feliz, ainda segurando seu brinquedo. Durante todo o dia ela se diverte ao lembrar-se daquele rápido encontro proporcionado por um pequeno objeto de plástico amarelo.

Um comentário:

Carol Queiroz disse...

Gostei muito, Lore. E concordo plenamente com isso que você falou, nós deixamos de nos permitir quando crescemos. As vezes crescer é tão chato, né? Sinto saudade da infância, e quero um Pikachu! kkkk bjs :*