quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

TODOS PELA SAÚDE


Sabendo do meu encanto por reuniões em que se discute um determinado tema, meu amigo Gabriel sugeriu-me assistir o documentário sobre a Conferência Mundial de Determinantes Sociais da Saúde (CMDSS), realizada no Rio de Janeiro entre 19 e 21 de outubro de 2011. Como acredito que aquele encontro foi fundamental para os militantes da reforma sanitária e para os vigilantes da garantia da saúde, por não lembrar de nenhum meio de comunicação ter destacado o evento e por ser um tema sem prazo de validade, já que o êxito de uma Conferência pode ser determinado pelo impacto provocado nas políticas públicas regionais, nacionais, internacionais ou até pelo legado construído ao longo do tempo, resolvi explorar o assunto.

 O evento reuniu líderes globais para a elaboração de políticas voltadas à redução de tendências relacionadas às desigualdades em saúde, com base nas considerações da Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde instituída em 2005 pela Organização Mundial de Saúde, firmando compromissos para o combate às desigualdades em saúde através da ação sobre seus determinantes sociais. Os temas principais do debate ocorreram em torno da reflexão da necessidade de atuação sobre os determinantes sociais, visando uma abordagem mais profunda sobre o enfrentamento das questões como: Programas de saúde pública, redução das desigualdades nos programas de saúde, importância das lideranças comunitárias para a ação sobre os determinantes sociais.

Por trás de todas as injustiças contestadas pelos militantes esteve um fator que desarticula a nossa vida social: o poderoso mercado globalizado. Um jogo que coloca em disputa as necessidades do ser humano, produção econômica e interesses e especulações do capital financeiro. Um jogo em que os perdedores são sempre os mesmos, as classes inferiores, são os que pagam pelas crises e pelas reduções impostas pelo sistema capitalista. 

Um exemplo pleno é o sistema de saúde da China que durante o período comunista era universal e com a brecha econômica, os interesses do mercado foram privilegiados, fazendo com que grande parte da população perdesse o acesso a um programa educacional e de saúde pública de qualidade. Ou seja, a China realmente se tornou uma potência econômica, só que o direito a saúde e a educação foram desagregados da população. 

O documentário mostrou também a indignação e as críticas dos que acampavam na frente do prédio onde acontecia o evento. Apesar da cobrança por resultados satisfatórios, o documento proposto pelos representantes de 130 países quanto às razões das desigualdades entre as populações do mundo e de ações globais não foi nem um pouco surpreendente. Por quê? Por que já se passou quase dois anos do evento e 35% das mortes de crianças são em função da desnutrição e grande parte delas são da África; países pobres pagam cada vez mais caro por alimentos e principalmente por saúde, só que vendem cada vez mais barato suas melhores terras às corporações transacionais de alimentação. Mas o exemplo que mais me deixa estarrecido é que o valor investido na saúde de uma vaca japonesa é cinco vezes maior do que a de um cidadão africano.

Um exemplo bem próximo da gente do descaso a saúde de um povo, é o Sistema Único de Saúde (SUS). A crise da saúde brasileira carrega dimensões de uma crise universal, sem contar que há um enorme déficit quanto à atenção médica, a colocação de leitos do SUS para planos de saúde entre muitos outros problemas. Por isso se questionassem a minha opinião quanto ao que é mais urgente e inadiável, se é a reformulação da gestão da saúde no Brasil e nos países pobres, se é a falta de uma boa dose de recursos ou até a ampliação do acesso com qualidade, eu diria que era mais eficaz um coquetel com todos esses “remédios”.

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