quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O ÚLTIMO DIA DOS DEZENOVE ANOS


Abro a gaveta e encontro o que procurava. Cadernos, classificadores, diários, textos acumulados ao longo dos anos. Nos papéis, as palavras digitadas ou caligrafadas contam histórias reais e ficcionais, escritas por mim no decorrer da vida.

Em toda véspera de aniversário fico assim: nostálgica. Releio os textos, choro, sorrio. Dou risada da forma como escrevia, das palavras que escolhia, das histórias que eu contava. Choro com as lembranças do passado, dos momentos que não mais voltarão.

No meio da papelada lá estão eles, os clássicos textos de aniversário, através dos quais eu desabafava sobre a vontade de ser criança para sempre e sobre o medo das responsabilidades que surgiam a medida que eu ia ficando mais velha. Pouco mudou.

Ainda me assusto ao notar como o tempo passou depressa e o quão distante vou ficando daquela criança que nunca quis deixar de ser. Alguns hábitos continuam os mesmos. Ainda gosto de ler, escrever, cantar, comer chocolate. Algumas pessoas não fazem mais parte da minha vida. Amigos que se distanciaram, parentes que já se foram. E olhando um pouco para trás me impressiono com a quantidade de fatos que pude presenciar.

Sobrevivi a dois fins do mundo. Assustei-me ao assistir, ao vivo na televisão, o ataque à segunda torre gêmea. Torci para que a seleção brasileira de futebol conquistasse o pentacampeonato. Vi os Estados Unidos eleger seu primeiro presidente negro, e o Brasil sua primeira presidente mulher. Tive que me despedir de ídolos nacionais, como Chico Anysio, e internacionais, como Michael Jackson. E me surpreendi com fatos inusitados, como a renúncia do papa, algo que não acontecia há quase seis séculos.

Durante todo esse tempo em que presenciei tantos fatos, vivi e aprendi muitos outros. Hoje sei que o importante não é ter certeza sobre todas as coisas, mas saber lidar com as incertezas quando elas aparecerem. E também percebi que é essencial ter gratidão por tudo aquilo que tenho e não deixar de ter esperança de que as coisas ainda possam melhorar.

E ser grata, sem dúvida, foi uma das maiores lições da minha vida. Gratidão por aquilo que sou feliz em possuir, mas que no fundo sei que pertencem à vida. Assim como o tempo, passa rápido demais e a única coisa que sei que posso fazer é aproveitar da melhor maneira possível.

E é por isso que aprendi que não adianta viver se lamentando do que poderia ter sido. Não quero olhar para trás e pensar que só dei valor depois que perdi. Procuro viver o presente, valorizando tudo aquilo que faz parte do meu “agora”.

Fecho a gaveta e nela continuam guardados todos os textos e lembranças. Lá dentro também se encontra um pedaço de mim, da menina que escrevia em diários, da adolescente que desabafava em blogs. Os anos, inevitavelmente, passarão e a vida e os aprendizados me farão crescer, mudar. Meu desejo, no último dia dos dezenove anos, é ter sempre ao meu alcance a possibilidade de abrir novamente a gaveta e mais uma vez me identificar com o que há dentro dela.

Nenhum comentário: