segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

RENÚNCIA DO PAPA: "RELENDO O QUE NUNCA FOI LIDO"

Após 598 anos, um Papa voltou a renunciar. Por essa ninguém esperava! Ao saber e assimilar a informação, duas coisas vieram em minha mente, a primeira foi o filme Habemus Papam, que conta a história de um Papa que após eleito não aceita o cargo, gerando surpresa e questionamentos de todas as partes, além de um grande desconforto a Igreja Católica. A segunda lembrança foi a imagem o Papa João Paulo II, que desde quando foi baleado em 1990, superou diversas adversidades impostas por sua saúde até seu último dia. Pelo que parece, a surpresa e os questionamentos que aparecem no filme se tornaram realidade, e a imagem do simpático João Paulo II, passa pela mente de todos. Além disso, todos nós questionamos, porquê ele saiu?

Na nota divulgada pelo Vaticano, Bento XVI justificou a saída: "Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. (...)  É necessário também o vigor, quer do corpo, quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado."

Então Cardeal Joseph Ratzinger
junto ao Papa João Paulo II.
Foto: Osservatore Romano/EFE
Sabemos que as pessoas são diferentes, que escolher o que deseja para sua vida cabe a cada um, e isso deve ser respeitado. Mas ainda assim, por alguns motivos, parece muito estranha a renúncia, além do fato de ser raro, justamente o Papa que sucedeu João Paulo II, que mesmo tendo sido baleado em virtude do cargo, e tendo sofrido com mal de Parkinson, se manteve até o fim. Exceto na possibilidade de algo mais grave na saúde do Pontífice estar sendo escondido, é visível que sua saúde está melhor que a de João Paulo II.

O espanto é geral, tanto para quem não é católico, como para os líderes da religião. Apesar disso, todas as declarações do dia, inclusive a nota da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), classificam a saída de Bento XVI como um sinal de sua "humildade e grandeza", por não ficar preso ao cargo até seus últimos dias. É possível, mas será que dizer isso não atinge a memória, por exemplo, do Papa João Paulo II, que permaneceu até o fim? Se Bento XVI foi humilde ao sair, significa que os outros que se encontravam em condição semelhante deveriam ter tido a mesma atitude e não foram humildes?

FOTO: AGÊNCIA EFE
O momento é surpreendente, e como diz a música 'O Papa é Pop', dos Engenheiros do Hawaii, "todo mundo está relendo o que nunca foi lido". A frase gravada na década de 90, hoje faz todo sentido, renúncias já aconteceram, quando o Brasil  ainda nem existia, mas nós do século XXI estamos lendo isso pela primeira vez. Talvez por isso algumas declarações podem ainda não ter sido bem pensadas, mas certamente o assunto ainda renderá muito.

A Igreja Católica não cairá em virtude desse momento, pelo contrário, pode estar se iniciando uma era onde a igreja repensa seus próprios conceitos e se moderniza. A renúncia de um Papa, é algo que por muito tempo se considerou impossível de voltar a acontecer, pode abrir precedente, por exemplo, para a igreja cogitar o casamento de padres ou a autorização do uso da camisinha. A maior certeza de todas é que estamos assistindo a história ser escrita.



Um comentário:

Soares Kelma disse...

Hum, casamento de padres é um tanto quanto moderno demais meu caro, não vamos exagerar. Sou muito contra a igreja católica, tenho que admitir que foi um ato surpreendente de Bento XVI, acredito eu que ele abriu os olhos e viu que isso só sugava-lhe o resto de vida que ainda resta. Enfim, parabéns pelo texto.