segunda-feira, 25 de março de 2013

PERDEMOS AO ASSISTIR SÓ ESPORTES ONDE VENCEMOS


Sabe quando crianças estão jogando alguma coisa, e uma começa a perder com frequência e ao invés de tentar aprender, logo desiste? Esse é o comportamento do brasileiro quando falamos de acompanhar esporte. Encontrar quem curte e assiste um esporte por verdadeiro prazer, independente do sucesso de brasileiros, está ficando raro. Esse abandono do público resulta dentre outras coisas na queda da formação de novos atletas, falta de patrocínio, sem falar da decadência contínua enfrentada por alguns esportes. Das quadras, pistas, ringues e piscinas, podemos tirar algumas lições de como os resultados influem em nossa forma de acompanhar o esporte.

TÊNIS E AUTOMOBILISMO EM QUEDA

Guga ao vencer Roland Garros pela 3ª vez / Getty Images


O tênis há pouco mais de dez anos era febre, com o sucesso de Fernando Meligeni e principalmente de Gustavo Kuerten, que foi tricampeão de Roland Garros e número 1 do mundo. Porém, com o fim de suas carreiras e a falta de um nome que ocupasse esse espaço vazio, boa parte do público deixou o esporte de lado. Isto restringiu o tênis à programação da TV paga, sendo visto apenas por um público que realmente curte o esporte, dificultando que outras pessoas conheçam e passem a gostar. 

Com isso, a motivação de quem poderia ter sido um novo grande talento, ficou num futuro que não veio. No ranking mundial de jogadores da ATP (Associação de Tênis Profissional), o melhor brasileiro é Thomaz Bellucci, que ocupa apenas a 40ª posição. No ranking feminino o desempenho é ainda mais preocupante com a 118ª posição para Teliana Pereira, a brasileira melhor colocada.

Quem também está indo nesse caminho é a Fórmula 1, que apesar de modernizar-se e ficar mais emocionante a cada ano, está perdendo espaço no país, já que desde Senna em 1991 um título mundial da categoria não vem para o Brasil. Na última corrida, disputada na Malásia nesse domingo, 24 de Março, Felipe Massa largou em 2º e acabou terminando em 5º. Então pergunto, se ele ganha? Acredito que seria um alvoroço o domingo inteiro na TV, redes sociais e capas de jornal no dia seguinte. Ele sequer foi ao pódio, mas a corrida foi boa, valeu a pena acordar 4h45 da madrugada de um domingo para ver a disputa entre Sebastian Vettel e Mark Webber, sendo ambos da mesma equipe, inclusive para repensar, porque os brasileiros não têm a mesma coragem.

Apesar da Stock Car e de outras categorias que contam com brasileiros, o desgaste que o Brasil foi tendo na Fórmula 1, somada a administrações ruins, resultam num cenário grave no automobilismo brasileiro, como falou o bicampeão mundial Nelson Piquet, em entrevista recente ao SporTV: “Não há automobilismo no Brasil. Há muita desorganização. Ninguém se mostrou capaz, no cenário atual, e estamos piorando cada vez mais. Daqui a alguns anos, não haverá um representante brasileiro competindo na Europa em categorias que podem levar à F-1”.

O RENASCER DO BASQUETE E O SUCESSO CHAMADO VÔLEI

A geração de Oscar, Paula, Hortência e Janeth foi brilhante. O basquete masculino ganhou os Jogos Pan-americanos de 1987 dentro dos EUA e o feminino venceu Cuba nos jogos de sua capital, Havana, em 1991. Somado a isso, a prata e o bronze nos Jogos Olímpicos de 1996 e 2000, respectivamente.  Mas depois disso veio um geração perdida.

Momento épico em que Hortância e Paula recebiam
o ouro panamericano das mão de Fidel Castro /
Foto de autoria desconhecida
O feminino ainda busca se reencontrar, sob o comando de Hortência, atual dirigente da Seleção Feminina. O masculino começa a se reerguer, graças aos bons jogadores da NBA e com a criação do NBB (Novo Basquete Brasil) um liga nacional que vem ganhando cada vez mais prestígio. Nos últimos Jogos Olímpicos, de Londres 2012, o Brasil foi eliminado nas quartas de finais, após um jogo duríssimo contra a Argentina, que venceu com apenas cinco pontos de vantagem.

Já com o vôlei o caminho foi inverso, ele foi gradualmente ascendendo, até ser, acredito eu, o segundo principal esporte do país. O esporte foi ganhando espaço no final da década de 80 e se mostrou de fato no último dia das Olimpíadas de Barcelona em 1992 – curiosamente no dia em que eu nasci – quando a seleção masculina conseguiu a primeira medalha de ouro do país em esporte coletivo. Mais que isso, o vôlei conquistou a simpatia do país. Daí foi só crescimento, sendo hoje uma seleção com dois ouros e três pratas olímpicas, três títulos mundiais e nove da liga mundial.

Assim como no masculino, o reconhecimento ao vôlei feminino do Brasil só veio depois de um título olímpico, em 2008. No começo dos anos 2000, quando a seleção masculina não parava de vencer, no lugar do apoio, a seleção feminina recebia uma chuva críticas, num imediatismo que visivelmente afetava o emocional da seleção. Com os dois títulos olímpicos consecutivos, hoje as criticas começam a se voltar para a seleção masculina, que vive uma dura transição, com a saída de uma geração de ouro. 

Apesar de tudo, o apoio iniciado em 1992 faz com que hoje o Brasil tenha ligas fortes, no masculino e no feminino, com o surgimento da Superliga que hoje é um sucesso com transmissão em horário nobre na TV paga, e transmissão em TV aberta durante a fase final.

A QUEDA DO BOXE E A ASCENSÃO DO MMA

Após o crescimento do UFC com a presença de brasileiros,
cenas como os títulos de Popó voltarão a ser vistas
por aqui? / Foto de autoria desconhecida
Se tem uma modalidade que já fez sucesso sem depender da presença brasileira é o boxe, que nos anos 90 criava um alvoroço em noites com Holyfield ou Mike Tyson. Naquele tempo o grande nome do país era Maguila, que tempos depois perderia sua soberania no país para Popó, que chegou a ser tetracampeão mundial. Sua pausa abriu espaço para o MMA, que deixou de ser o antigo vale tudo, passando a ter regras que preservasse um pouco mais da integridade física do atleta. O crescente sucesso de atletas como Anderson Silva, Vitor Belfort e os irmãos Minotauro e Minotouro impulsionaram o torneio UFC no país, tornando-lhe uma febre que chegou à TV aberta, ocupando o espaço que um dia foi do boxe, as madrugadas de sábado para domingo. 

Esse é um grande exemplo de como a presença brasileira influencia. Caso um brasileiro emplacasse no boxe logo após a pausa de Popó, será que o MMA cresceria tanto? Apesar de essas duas modalidades terem muitos admiradores em todo país, o fator decisivo para a valorização deles é o público que aprecia só se tiver Brasil.


NINGUÉM É OBRIGADO...

... a apreciar e assistir todos os esportes, mas se temos aqueles em que há uma afinidade, precisamos entender que esporte é lazer, portanto, não precisa haver imediatismo e críticas exageradas. Por mais chato que seja não estar por cima às vezes, criticar demais prejudica mais que ajuda.

Phelps, "apenas" com as 8 medalhas de Pequim 2008.
Ele levou 20 em 3 olimpíadas,  se tornando o maior vencedor
 da história do jogos / Foto de autoria desconhecida
Vale também não abandonar uma modalidade que você gosta de ver, porque seu país não tem um atleta de ponta naquilo. Isso faz com que assistir alguns esportes tenha se restringido aos Jogos Olímpicos a cada quatro anos. O maior nadador da história, Michael Phelps, se aposentou no ano passado, e só pudemos assistir ele três vezes: Olimpíadas de 2004, 2008 e 2012. Quantos talentos brasileiros não poderiam ter surgido, se fossemos maduros o suficiente para ver e aprender com o sucesso de um grande atleta dos EUA? 

Parece inacreditável não se falar nada por aqui sobre atletismo, o mais antigo conjunto de atividades esportivas da humanidade. Ridiculamente nos damos o direito de criticarmos atletas como Fabiana Murer, do salto com vara, e Maurren Maggi, que nem com o ouro de 2008 conseguiu impulsionar o salto em distância, que outrora já brilhou com João do Pulo. Somos um país que se surpreendeu nos Jogos de Londres com Yane Marques, não com seu bronze, mas por saber que existe um esporte chamado Pentatlo Moderno.

Somos o país das próximas olimpíadas, mas não faço ideia de quando seremos um país olímpico.


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