terça-feira, 5 de março de 2013

TORCEDOR CAFÉ-COM-LEITE


Darino Sena tem se mostrado um bom comentarista. Claro que ele dá umas escorregadas, de vez em quando, como os elogios a Kleberson, já em fim de carreira, na chegada ao Bahia, ou exaltar o elenco do Vitoria e depois ver o clube rubro-negro subir para a Série A aos trancos e barrancos. Mas no geral tem se mostrado um bom analista de futebol, trazendo números para explicar seu ponto de vista.

Do outro lado da comunicação, está o torcedor que vive o futebol 100% do tempo com o coração na ponta da chuteira, sem processar o que está ouvindo ou lendo. Ele não quer abrir o caderno de esportes de um jornal, ouvir um debate de mesa redonda no radio ou ligar a tv, para ver alguém falar dos problemas do seu time e dizer que mereceu a derrota no jogo de domingo. O torcedor vai seguir aquela linha de raciocínio de que estrangeiro nenhum pode falar das mazelas sociais e econômicas do Brasil, apenas os brasileiros é que podem fazer essa crítica.

Por causa dessa bússola ignorante que norteia o torcedor, muitos comentaristas esportivos se sentem impedidos de revelar o distintivo do seu clube do coração. São poucos os que assumem e são raros os que conseguem um mínimo de respeito e o direito de serem ouvidos. A maioria esmagadora opta por uma posição neutra sem revelar o seu time de infância ou declara amor a clubes sem projeção nacional, que dificilmente vão disputar um título de grande importância.

Em Salvador, a rivalidade entre Bahia e Vitoria é enorme. Mas não chega a ser tão violento quanto nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro em que gangues uniformizadas marcam confrontos mortais em praças publicas. Porém, os jornalistas e comentaristas baianos geralmente recorrem a opção de se tornarem setoristas de um dos times nas suas empresas de comunicação. Por só falar dos seus times do coração, eles recebem uma imaginária licença para falar de tudo do seu time, inclusive dos problemas, junto aos torcedores. Mas dificilmente vão apontar algo no clube rival que fuja da obviedade. Aí se aproveitando disso, surgem os puxas-saco das diretorias que não vão meter a colher em assuntos delicados, digamos assim, que mereceriam a devida atenção, pauta e debate.

Voltando ao nosso personagem que abriu e serviu de inspiração deste texto, por causa de alguns comentários seus, que a meu ver não foram nada discrepantes, já foi taxado de Bahia doente ou de Vitória doente. Já ouvi também de pessoas supostamente próximas, cravarem o time do coração dele. Mas hoje, assistindo ao Globo Esporte, os apresentadores disseram que Darino já tinha revelado que o seu coração bate forte pelo Jacuipense. Não sei até onde é verdade. Mas vejo que ele optou pela neutralidade para ter a liberdade de apontar os erros do Bahia e do Vitória. Ao invés de se tornar setorista de um dos dois clubes, até porque no bolso da televisão baiana existe um escorpião que a impede de pagar mais, preferiu ser um comentarista para promover um debate entre dois clubes. Por isso ele não pode se dar o luxo de revelar o time que torce.

Além de batalhar a vida toda para sobreviver fazendo o que gosta, o jornalista e o comentarista esportivo, não podem vestir a camisa do clube do coração. Tendo que viver fadados a serem um torcedor café-com-leite. Tudo por causa da ignorância do torcedor, que não usa a cabeça para ouvir o por que da derrota do seu time na última rodada.

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