segunda-feira, 6 de maio de 2013

BOLSA FAMÍLIA: NOVAS GERAÇÕES ATÉ QUANDO?


Um dos meios utilizados pelo jornalismo em sua missão de informar à sociedade o que for de seu interesse é a realização de levantamentos e pesquisas. Se aposta em assuntos que provavelmente têm uma notícia escondida, ou ações que imagina-se um resultado negativo passado algum tempo. São agrupados dados que podem se transformar em grandes reportagens, durante meses e até anos.

Uma dessas reportagens foi publicada neste domingo, 5 de maio, pelo Jornal O Globo(RJ), sendo escrita pelo jornalista Demétrio Weber. A capa do jornal destacava o fato de que 45% dos domicílios que recebiam o auxílio no início do programa, em 2003, continuam recebendo, totalizando mais de 522 mil benefícios mensais. A Bahia é o estado com a maior concentração de beneficiários desde o começo, mais de 83 mil. A reportagem ressalta que "não é possível afirmar se os 55% restantes que estavam na lista original dos beneficiários deixaram de vez o programa ou retornaram mais tarde". As saídas podem ter sido também por não cumprimento das exigências do programa, e também por filhos que completaram 18 anos.

Reprodução: O GLOBO
Um outro enfoque da matéria também me preocupou, tanto que motivou esse texto: "Jovens que cresceram em lares beneficiados têm filhos e passam a ganhar auxílio". Ou seja, o programa começou a torna-se um ciclo, onde um beneficiário do programa tem uma filha, que cresce e tem uma outra criança,  tornando-se outra beneficiaria.

Antes de qualquer coisa, é fundamental deixar de lado a visão preconceituosa de que o programa é uma Bolsa Esmola. Muitas pessoas estão vivas e em condição digna por conta disso. Pessoas que nunca tinham sido olhadas pelo país passaram a viver de modo um pouco melhor. Além disso, sabemos que aqueles que vivem apenas com o dinheiro do programa ainda passam dificuldades, o que faz com que muitos dos que recebem o auxílio corram atrás de ganhar dinheiro de outras formas, no trabalho informal.

Atualmente, segundo O Globo, cerca de 50 milhões de pessoas, de quase 14 milhões de famílias, recebem o auxílio. No início eram apenas pouco mais de um milhão de famílias. Um grande crescimento, num cenário onde o Bolsa Família, agora comprovadamente, não prepara as pessoas para deixarem o programa, tendo em vista a grande quantidade de famílias que nesses dez anos não foram preparadas a caminhar sozinhas.

Apesar de necessário, o Bolsa Família caminha num sentido de quem vai se eternizar, quando deveria ser um paliativo (por falar nisso, leiam também o texto "País dos Paliativos Eternos").  Prova disso são as eleições do ano passado, onde até mesmo pessoas que sempre foram contra o programa, diziam que iriam mantê-lo. Não num tom de reconhecimento da importância, e sim numa ação populista e eleitoreira, que perpetuará o programa durante anos, agradando uma população ignorante que não compreende que ela pode ir além disso, cobrando uma educação que lhe dê condições de possuir boa formação profissional, um emprego bacana e salário decente.

Na reportagem, o Secretário Nacional de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Luis Henrique da Silva de Paiva, disse que o programa "contribui para que o público atendido caminhe com as próprias pernas, na medida em que exige a frequência escolar das crianças".

Será que frequência escolar virou sinônimo de qualidade na educação? Apesar das exceções, todos nós conhecemos exemplos de escolas públicas em péssimas condições, profissionais mal remunerados e sem boa preparação. Inclusa nessa frequência escolar estão até jovens que vão ao colégio se drogar, analfabetos funcionais e seres humanos que crescem sem preparação nenhuma para enfrentar as dificuldades impostas pela vida. Aliás, durante essa frequência escolar são geradas crianças que em breve serão beneficiadas pelo programa.

O cenário mostrado pela reportagem demonstra que esse programa, que poderia ser o grande rumo de uma mudança do Brasil, garantindo o sustento e a educação, vai num rumo de eternidade. Não existem metas de quando o projeto deseja reduzir drasticamente número de beneficiários, onde a grande maioria deles passe a viver de modo autossuficiente. Manter as pessoas apenas recebendo, por mais décadas gera votos e é do interesse de muitos. Não é à toa que essa reportagem só saiu após recursos do jornal que fizessem valer a Lei de Acesso à Informação. A divulgação desses dados é uma vitória da sociedade.

O jornal divulgou a publicação do impresso na internet, através de várias matérias. Confira os links abaixo:

Bolsa Família completa 10 anos e já chega à segunda geração

Lista de beneficiários do Bolsa Família foi obtida após recursos

Secretário afirma que programa não cria dependência

Mapa: concentração de beneficiários desde outubro de 2003

Perfil de pobreza muda em dez anos do programa Bolsa Família 
  

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