segunda-feira, 3 de junho de 2013

O HOMEM QUE DESAFIOU TANQUES DE GUERRA


Há 24 anos, em 05 de Junho de 1989, um homem proporcionou uma das imagens mais marcantes da história da humanidade. O fato ocorreu na China e seu anonimato fez com que ele ficasse conhecido como o “Rebelde Desconhecido”.  Esse ato de coragem, que virou símbolo na luta pela paz, se torna ainda mais extraordinário quando conhecermos o contexto no qual ele ocorreu.

Essa imagem histórica é o desfecho de um momento trágico. Iniciou-se no mês de abril daquele mesmo ano, um movimento formado principalmente por estudantes, trabalhadores e intelectuais chineses. Eles se uniram após a morte de um dirigente comunista que concordava com a necessidade de reformas no governo chinês (ditadura comunista).  Eles passaram a protestar contra a corrupção do governo e pediam a abertura econômica e política do país, de modo semelhante à antiga União Soviética.

Foto: Associated Press
E foi justamente a União Soviética que fez o mundo voltar seus olhos à Praça da Paz Celestial, a mesma onde o homem desafiaria os tanques. No período do protesto, o presidente soviético, Mikhail Gorbachev, visitou a China, algo que já era programado algum tempo antes. Veículos de imprensa internacionais acompanharam Gorbachev e se surpreenderam com os protestos na praça. Quando ele foi embora da China, diante da proporção que o protesto já tinha tomado, a imprensa ficou.

Poucos dias depois o governo comunista declarou a Lei Marcial, o que significava suspensão de todos os direitos da população, como a possibilidade de se reunir e o simples ato de ir e vir. Ainda assim o movimento continuava firme, centenas de milhares já tomavam a praça, fazendo surgir até mesmo um monumento parecido com a Estátua da Liberdade.

O caminho para o desfecho aconteceu quando o governo chamou tropas do exército que estavam no norte do país, trazendo para a Praça da “Paz Celestial” pessoas que não tinham nenhum vínculo ou sequer sabiam de fato o que os manifestantes desejavam. O resultado foi um massacre onde milhares foram mortos e feridos por militares na noite de 4 de junho.

Então, voltamos ao homem que motivou este texto. Na manhã do dia 5, tanques passavam pela Praça da Paz Celestial quando surge nosso “Rebelde Desconhecido”. O vídeo abaixo, com direito a subida no tanque de guerra, vale mais que mil palavras.




Como já disse, sua identidade permanece desconhecida até hoje. Seu destino é incerto, no vídeo ele é levado por dois homens, não se sabe se eram outros estudantes ou soldados. O fato é que possivelmente ele estava entre os 906 manifestantes presos após os protestos. Pode estar vivo ou pode ter sido executado. Ele teve seu ato censurado na imprensa chinesa, mas seu feito é conhecido em muitos países.

Apesar desse absoluto desconhecimento, não é necessário saber quem foi, qual a sua história ou que destino ele teve para poder afirmar que esse momento de coragem é sinônimo de liberdade.  O cenário das horas anteriores deixava claro que aquele ato teria consequências, mas a dignidade de peitar aqueles tanques, pensando no que acreditava e em respeito a todos os seus companheiros que morreram anteriormente, deve ter feito esse homem se sentir livre de toda aquela opressão que lhe era imposta.

Por ele ter vivido esse momento, breve, porém histórico, arrisco dizer que seja lá o que “Rebelde Desconhecido” tenha tido como consequência, creio que ele não se arrependeu do seu instante de liberdade. Se ele não tivesse feito aquilo, talvez tivesse tido uma vida comum, podendo andar tranquilamente, mas nunca estaria tão livre como naquele instante de bravura e dignidade.

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