quinta-feira, 6 de junho de 2013

SALVADOR SOFRE COM A FALTA DE LIXEIRAS PÚBLICAS



No final de maio, o apresentador do programa “Agora é Tarde”, Danilo Gentili, em entrevista com o grupo mexicano Maná, questionou os músicos sobre qual a maior referência musical do Brasil para cada um deles. Sem hesitar, os integrantes da banda lembraram do Olodum e ainda manifestaram o interesse em conhecer Salvador. Diante a curiosidade dos músicos em visitar a capital baiana, Danilo replicou: "Vou dar um conselho a vocês, quando forem à Bahia, usem prendedor no nariz para não sentir o cheiro de urina".

Apesar do comentário machucar o ego dos soteropolitanos, Gentili não mentiu em sua declaração. Pior é que o cheiro forte de urina percebido pelo comediante não é o único problema social e administrativo carente de solução imediata na cidade. E o que dizer da falta de lixeiras públicas?

Há alguns dias decidi pedalar no bairro onde eu moro, Boca do Rio, até Itapuã. Na volta a corrente da bicicleta quebrou. Parei em uma lanchonete, comprei uma garrafa de água e caminhei, bebi e quando procurei uma lixeira pública, cadê que eu achei? Então decidi contar quantas lixeiras encontraria no caminho de volta para casa. Encontrei oito, quatro delas no mesmo lugar, na praia de Patamares, também não poderia ser diferente, a praia é bem visitada por turistas, surfistas e a classe média alta. É bom lembrar que a distância percorrida entre os dois bairros foi de 14,24 km.

Salvador, como a grande maioria dos centros urbanos, não dispõe de lixeiras públicas compatíveis a quantidade de lixo produzido por quem vive aqui. A maioria é encontrada no centro da cidade, pontos turísticos, praças centrais e bairros nobres. Esse problema é bem curioso, porque a instalação, a manutenção de lixeiras públicas e a reciclagem seletiva em praças e instituições de bairros carentes são um dos passos básicos da educação ambiental, tão lembrada nas três últimas eleições para prefeito. O resultado disso é a poluição visual, da água e do solo, cidade suja, bueiros entupidos, atração de insetos e roedores transmissores de doenças.

Se alguém me falar que esse não é um problema apenas do poder público, eu vou concordar e lembrar que muita gente culpa as autoridades, mas esquece que todos nós produzimos lixo e por isso somos responsáveis pelos cuidados que amenizem as más consequências. Porém eu tenho que lembrar que a auto-estima da população depende do empenho da prefeitura, boa distribuição de lixeiras pelas ruas, organização e mobilização dos recicladores profissionais, tudo isso conta muito.

Segundo levantamento feito pelo Ministério das Cidades em 306 municípios que representam 55% da população urbana do Brasil, apenas 53,8% da verba destinada chega a essas cidades. Para onde vai quase metade desse valor?

A questão das lixeiras faz parte do mobiliário urbano que é o braço direito do Plano Diretor (instrumento básico que orienta a política de desenvolvimento e de ordenamento da expansão urbana do município), a não aprovação dessa lei até hoje atrasa a definição de novas regras como, por exemplo, a implantação, padronização e os cuidados com as lixeiras.

Cada prefeitura deve ter, e cumprir, seu plano de tratamento de resíduos; garantir o atendimento das necessidades e uma melhor qualidade de vida na cidade; preservar e restaurar os sistemas ambientais e consolidar os princípios da reforma urbana, o que não está acontecendo em Salvador. Não foi à toa que ficou em último lugar, entre as capitais brasileiras, quanto a coleta de lixo público, são em média 1200 Kg recolhido a cada mês.  E eu nem peço tanto, só um lixeira pública em cada rua, avenida, alameda, jardim, logradouro, praça, quadra ou travessa, que é o mínimo indicado.

A busca de uma cidade sustentável, que atenda não só a atual, mas às gerações futuras, passa pela destinação correta do lixo produzido pelos habitantes. Já que a administração pública local não cumpre devidamente o seu papel, a população deve fazer a sua parte e um pouco mais. Cada garrafa plástica, papel de bala, embalagem que uma pessoa não joga no chão já faz muita diferença. Não basta só ter consciência ambiental, é preciso também ter ação consciente e solidária. Infelizmente nessa cidade ser cidadão esbarra na falta de estrutura.

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